Se você der uma olhada preliminar no enredo do curta-metragem de animação de João Gonzalez, Ice Merchants (Mercadores do Gelo), parece que não há muito com o qual uma pessoa comum possa se identificar. Pai e filho moram em uma casa que oscila perigosamente no topo de um penhasco, e todos os dias eles descem de pára-quedas para uma vila abaixo, vendendo lascas de gelo provenientes das áreas geladas do local.
Mas, embora surreal em sua trama, ao longo do filme João consegue explorar emoções e experiências humanas muito universais; o vínculo sagrado entre pais e filhos, o conforto da rotina, a ansiedade iminente do colapso climático e a complexidade de ter amado e perdido alguém.
Com Ice Merchants assumindo o formato de curta-metragem, o artista estava compreensivelmente preocupado em como iria encaixar todos os seus temas em seus 14 minutos. E inicialmente, em sua primeira iteração, o projeto era um filme focado principalmente na perda.
Assim como os outros dois filmes de João, The Voyager (2017) e Nestor (2019), o projeto foi instigado por uma imagem que veio do subconsciente do cineasta: “Nesse caso, aquela imagem era uma casinha remota e solitária presa a um penhasco alto. ”, conta o animador.
A partir desta imagem, João começou a enriquecer a peça com experimentos visuais, modelando os filmes ambientados em 3D, para “entender o lugar onde o filme vai se passar ”. Ele explica: “Eu faço isso mesmo que acabe não usando nada da modelagem 3D ou animação para a peça final. É uma maneira improvisada de procurar locações, já que a locação do filme não existe na vida real.” Vai o trailer, o filme completo e os making-ofs abaixo:
